ANTE A DIFUSÃO ESPÍRITA – ALGUMAS PALAVRAS
Considerando a imprensa laica, Emmanuel advertiu: “nunca os círculos educativos da Terra possuíram tanta facilidade de amplificação, como agora, em face da evolução das artes gráficas; jamais o livro e o jornal foram tão largamente difundidos; entretanto, a imprensa, quase de modo geral, é órgão de escândalo para a comunidade e centro de interesse econômico para o ambiente particular, enquanto que poucos livros triunfam sem o bafejo da fortuna privada ou oficial, na hipótese de ventilarem os problemas elevados da vida.” (1)
A
divulgação espírita atual faz jus ao apoio e o incentivo de todos nós?
Sim! Não há como desconhecermos a importância da divulgação
doutrinária para a manutenção da chama viva da Terceira Revelação. “O
conhecimento espírita, na essência, é tão importante no reino da alma,
quanto a alfabetização nos domínios da vida comum”.(2)
A
imprensa espírita é um notável canal de divulgação, capaz de conduzir o
leitor às informações fundamentais da nossa realidade doutrinária,
balizando-o, vigorosamente, em efetivos projetos de espiritualização.
Destarte, é mister que os meios de comunicação estejam compromissados
com a ética, com a verdade revelada pelos Espíritos Superiores e com a
melhor qualidade dos temas difundidos.
Sendo poderoso
meio de disseminação das verdades eternas e por dirigir-se a dois
públicos – o espírita e o não espírita – a mídia kardeciana não deve
ultrapassar os limites dos interesses doutrinários e imiscuir-se em
altercações políticas ou disputas de lideranças pelo movimento espírita
institucionalizado.
Para lograr os ideais de
convivência pacífica na disseminação das verdades eternas entre pessoas
de diferentes convicções, é forçoso fugir do egocentrismo. O
Espiritismo é uma doutrina transcendente, destinada a influir na
transformação social; por isso, deve tornar-se alteritária, para
possibilitar o diálogo fraterno e não-excludente. Não se pode imaginar
uma divulgação espírita desatenta ao mundo, enclausurada em si mesma.
Não
é difícil averiguar que falecem meios de comunicação arejados
(jornais, revistas, sites, televisão, rádios), que se pode confiar sem a
sensação desagradável de asfixia, de sujeição servil a lideranças
extravagantes. A coordenação do movimento espírita coevo estabeleceu um
clima de autocensura, reduzindo a divulgação espírita a uma
insensibilidade inerme, como se jazesse abafada a uma administração
clerical.
Nos centros espíritas surgem palradores
“estrelas”, funcionais e irrequietos, que transformam tribunas em
ribaltas para os holofotes das mídias espíritas, quase sempre expondo a
doutrina com superficialidade, aventurando uma cultura de aluguel. Não
perdem a menor oportunidade de teatralizarem a palestra com surtos
oratórios para extraírem dilúvios de palmas da plateia.
Outra
realidade é: quanto mais se expande o ciberespaço, mais se amplia o
universo da disseminação espírita na sociedade. Daí urge toda cautela
para que a veiculação dos preceitos doutrinários, sobretudo virtuais,
não venha a se converter em ingente esforço de propagação ideológica, a
fim de converter a todos, sob o tacão da insensatez dos espiritismos à
moda brasileira. Qual inumana expiação, notamos muito personalismo na
difusão do Espiritismo; há muita presunção, prevalecem muitos interesses
pessoais sobrepondo-se ao coletivo.
Poucos são os
articulistas e oradores que têm a audácia e a consistência de se
assentarem em amparo do restabelecimento da verdade revelada pelos
Espíritos e do comportamento crítico no círculo doutrinário.
Infelizmente, a massa popular ainda não entendeu a Doutrina Espírita. O
nível baixo da cultura do povo não permitiu o desenvolvimento coerente
da doutrina entre os “ilustres” excluídos do sistema elitizante. Quiçá
não haja interesse da elite cultural pelo despertar das consciências
vulgares, porque senão os aduladores desaparecem. Isso é muito
evidente, até porque quanto mais esclarecimentos doutrinários, menos
idolatrias, e como se busca shows e aplausos, é preferível “afagar” a
todos, a “desgostar” o grande público de idólatras inscientes. E nessa
direção a divulgação Espírita vai abafando a orientação do Evangelho
Redivivo.
Jorge Hessen
http://jorgehessen.net/blog
Referência bibliográfica:
(1) Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, Ditado pelo Espírito Emmanuel, questão 206, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001
(2) Vieira, Waldo. Sol Nas Almas, ditado pelo espírito André Luiz, São Paulo: Ed. Boa Nova, 2010
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