VER A VIDA COM OUTROS OLHOS
“Não é demonstração de saúde ser bem ajustado a uma sociedade profundamente doente.” Jiddu Krishnamurti
Algumas pessoas reclamam do tédio e da mesmice de suas vidas, provavelmente baseadas na rotina que estabeleceram e naquilo que consideram importante para sua sobrevivência e felicidade. Esse tédio e mesmice têm motivos.
Na verdade, andaram nos fazendo um desfavor. Convenceram-nos de que a felicidade estava no consumo e na posse de bens, e que a maior capacidade de consumir bens era diretamente proporcional à felicidade obtida. As corridas às lojas em razão das festas de final de ano são uma boa amostra disso.
Isso, porém, é uma falácia: um raciocínio que parece válido, mas não é. Um raciocínio que quer associar consumo a felicidade, relacionar consumo com qualidade de vida, que são duas coisas bem distintas e que não têm necessariamente de estar juntas.
A felicidade vem de outro lugar, ela é espiritual, está dentro das pessoas e não se condiciona ao exterior.
Claro que também não estou pretendendo que vivamos como os “amish” dos Estados Unidos, que andemos em carroças ou que joguemos fora nossos tablets. Penso que é mais uma questão de bom senso e bom uso da razão. A propósito, um dos itens de “O livro dos espíritos” trata exatamente d’“O necessário e o supérfluo”, e ali temos um comentário de Kardec à questão 717, segundo o qual: “O limite entre o necessário e o supérfluo nada tem de absoluto. A civilização criou necessidades que não existem no estado de selvageria e os Espíritos (...) não querem que o homem civilizado viva como selvagem. Tudo é relativo e cabe à razão colocar cada coisa em seu lugar.” Não se trata, portanto, de fugir para longe. Trata-se, acredito, de agir com um pouco mais de consciência, o que implica entender o sentido de estarmos nesta vida e compartilharmos este planeta com outras almas encarnadas. Para atingir essa consciência, é preciso abandonar a cegueira do orgulho e do egoísmo, dos quais o consumismo pode ser considerado um subproduto, sobretudo se o inserimos na noção de “sociedade do espetáculo” do pensador francês Guy Debord (1931-1994), onde o foco se torna a aparência, a imagem e a ostentação do consumo, mais que o consumo em si. Sobre isso, comenta Jacob Gorender, em “Marxismo sem utopias”: “O reino do capital fictício atinge o máximo de amplitude ao exigir que a vida se torne ficção de vida. A alienação do ser toma o lugar do próprio ser. A aparência se impõe por cima da existência. Parecer é mais importante do que ser”.
Poderíamos, contudo, deixar de dar tanta atenção ao que parece ser, enquanto continuamos cegos para aquilo que é. Poderíamos abrir bem os olhos pra enxergar a beleza por trás das coisas comuns e cotidianas e, em especial, a Realidade Maior, além desses objetos que nos rodeiam.
Que objetos são esses, cuja posse podemos desejar? Ora, essas coisas tão valorizadas neste mundo são diferentes daquilo que nós pensamos delas, pois nós lhes acrescentamos as nossas noções ilusórias ao contemplá-las. Estou olhando, por exemplo, para um monitor diante de mim, que tem uma série de componentes funcionando juntos e criando um objeto que uso para certa finalidade. Penso nele como monitor. Mas esses elementos poderiam compor outras coisas. E alguém poderia pegar esse monitor e transformar em algo totalmente diferente, numa bandeja, numa tela de pintura, em proteção contra o vento, em átomos...
As coisas neste mundo são assim mesmo, mutáveis. O que a gente olha aqui, com a perspectiva dos sentidos materiais, é a forma assumida por um conjunto de elementos, à qual atribuímos uma função em nossa vida. Incluindo a função de nos fazerem felizes... Mas, e se não víssemos apenas a forma? E se trocássemos sua função? Tudo nos pareceria diferente.
Poderíamos ainda ver além, ver a grande Realidade por trás da realidade, aquela que dá sustentação e propósito a tudo isso aqui. Aquela que é eterna e imutável.
Voltando ao tédio e à mesmice... Tempo passa, tempo chega a um novo tempo, mas nada necessariamente muda, porque o tempo é apenas fluxo que apresenta mudanças físicas e psicológicas ocorridas. Neste momento, há mudanças por aí afora, observadas ou não, embora talvez por dentro muitas pessoas se sintam exatamente como naquele dia da semana anterior em que acordaram, levantaram-se e foram cuidar de seus afazeres. A questão crucial para nós que queremos fundamentar nossa vida e nossas escolhas em vislumbres da Realidade Maior, então, é saber: quem sou eu? Que vim fazer aqui? Isso nos dá excelentes parâmetros para escolhas... A questão crucial é enxergar com outros olhos, assumir a vida a partir de uma nova perspectiva, a perspectiva que transcende esta realidade, o que certamente irá torná-la também muito mais interessante, dotando nossa vida de um significado muito mais belo e profundo.
Algumas pessoas reclamam do tédio e da mesmice de suas vidas, provavelmente baseadas na rotina que estabeleceram e naquilo que consideram importante para sua sobrevivência e felicidade. Esse tédio e mesmice têm motivos.
Na verdade, andaram nos fazendo um desfavor. Convenceram-nos de que a felicidade estava no consumo e na posse de bens, e que a maior capacidade de consumir bens era diretamente proporcional à felicidade obtida. As corridas às lojas em razão das festas de final de ano são uma boa amostra disso.
Isso, porém, é uma falácia: um raciocínio que parece válido, mas não é. Um raciocínio que quer associar consumo a felicidade, relacionar consumo com qualidade de vida, que são duas coisas bem distintas e que não têm necessariamente de estar juntas.
A felicidade vem de outro lugar, ela é espiritual, está dentro das pessoas e não se condiciona ao exterior.
Claro que também não estou pretendendo que vivamos como os “amish” dos Estados Unidos, que andemos em carroças ou que joguemos fora nossos tablets. Penso que é mais uma questão de bom senso e bom uso da razão. A propósito, um dos itens de “O livro dos espíritos” trata exatamente d’“O necessário e o supérfluo”, e ali temos um comentário de Kardec à questão 717, segundo o qual: “O limite entre o necessário e o supérfluo nada tem de absoluto. A civilização criou necessidades que não existem no estado de selvageria e os Espíritos (...) não querem que o homem civilizado viva como selvagem. Tudo é relativo e cabe à razão colocar cada coisa em seu lugar.” Não se trata, portanto, de fugir para longe. Trata-se, acredito, de agir com um pouco mais de consciência, o que implica entender o sentido de estarmos nesta vida e compartilharmos este planeta com outras almas encarnadas. Para atingir essa consciência, é preciso abandonar a cegueira do orgulho e do egoísmo, dos quais o consumismo pode ser considerado um subproduto, sobretudo se o inserimos na noção de “sociedade do espetáculo” do pensador francês Guy Debord (1931-1994), onde o foco se torna a aparência, a imagem e a ostentação do consumo, mais que o consumo em si. Sobre isso, comenta Jacob Gorender, em “Marxismo sem utopias”: “O reino do capital fictício atinge o máximo de amplitude ao exigir que a vida se torne ficção de vida. A alienação do ser toma o lugar do próprio ser. A aparência se impõe por cima da existência. Parecer é mais importante do que ser”.
Poderíamos, contudo, deixar de dar tanta atenção ao que parece ser, enquanto continuamos cegos para aquilo que é. Poderíamos abrir bem os olhos pra enxergar a beleza por trás das coisas comuns e cotidianas e, em especial, a Realidade Maior, além desses objetos que nos rodeiam.
Que objetos são esses, cuja posse podemos desejar? Ora, essas coisas tão valorizadas neste mundo são diferentes daquilo que nós pensamos delas, pois nós lhes acrescentamos as nossas noções ilusórias ao contemplá-las. Estou olhando, por exemplo, para um monitor diante de mim, que tem uma série de componentes funcionando juntos e criando um objeto que uso para certa finalidade. Penso nele como monitor. Mas esses elementos poderiam compor outras coisas. E alguém poderia pegar esse monitor e transformar em algo totalmente diferente, numa bandeja, numa tela de pintura, em proteção contra o vento, em átomos...
As coisas neste mundo são assim mesmo, mutáveis. O que a gente olha aqui, com a perspectiva dos sentidos materiais, é a forma assumida por um conjunto de elementos, à qual atribuímos uma função em nossa vida. Incluindo a função de nos fazerem felizes... Mas, e se não víssemos apenas a forma? E se trocássemos sua função? Tudo nos pareceria diferente.
Poderíamos ainda ver além, ver a grande Realidade por trás da realidade, aquela que dá sustentação e propósito a tudo isso aqui. Aquela que é eterna e imutável.
Voltando ao tédio e à mesmice... Tempo passa, tempo chega a um novo tempo, mas nada necessariamente muda, porque o tempo é apenas fluxo que apresenta mudanças físicas e psicológicas ocorridas. Neste momento, há mudanças por aí afora, observadas ou não, embora talvez por dentro muitas pessoas se sintam exatamente como naquele dia da semana anterior em que acordaram, levantaram-se e foram cuidar de seus afazeres. A questão crucial para nós que queremos fundamentar nossa vida e nossas escolhas em vislumbres da Realidade Maior, então, é saber: quem sou eu? Que vim fazer aqui? Isso nos dá excelentes parâmetros para escolhas... A questão crucial é enxergar com outros olhos, assumir a vida a partir de uma nova perspectiva, a perspectiva que transcende esta realidade, o que certamente irá torná-la também muito mais interessante, dotando nossa vida de um significado muito mais belo e profundo.
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